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terça-feira, 16 de abril de 2019

Prefácio do romance Notre Dame de Paris (O Corcunda de Notre Dame)

Depois da tragédia com a catedral de Notre Dame, é interessante ler o prefácio do livro de Victor Hugo.
Segue a tradução em português abaixo
do original em francês.

 Préface du roman Notre Dame de Paris de V. Hugo


Il y a quelques années qu’en visitant, ou, pour mieux dire, en furetant Notre-Dame, l’auteur de ce livre trouva, dans un recoin obscur de l’une des tours, ce mot gravé à la main sur le mur :
ἈNΆГKH.
Ces majuscules grecques, noires de vétusté et assez profondément entaillées dans la pierre, je ne sais quels signes propres à la calligraphie gothique empreints dans leurs formes et dans leurs attitudes, comme pour révéler que c’était une main du moyen-âge qui les avait écrites là, surtout le sens lugubre et fatal qu’elles renferment, frappèrent vivement l’auteur.
Il se demanda, il chercha à deviner quelle pouvait être l’âme en peine qui n’avait pas voulu quitter ce monde sans laisser ce stigmate de crime ou de malheur au front de la vieille église.
Depuis, on a badigeonné ou gratté (je ne sais plus lequel) le mur, et l’inscription a disparu. Car c’est ainsi qu’on agit depuis tantôt deux cents ans avec les merveilleuses églises du moyen-âge. Les mutilations leur viennent de toutes parts, du dedans comme du dehors. Le prêtre les badigeonne, l’architecte les gratte, puis le peuple survient, qui les démolit.
Ainsi, hormis le fragile souvenir que lui consacre ici l’auteur de ce livre, il ne reste plus rien aujourd’hui du mot mystérieux gravé dans la sombre tour de Notre-Dame, rien de la destinée inconnue qu’il résumait si mélancoliquement. L’homme qui a écrit ce mot sur ce mur s’est effacé, il y a plusieurs siècles, du milieu des générations, le mot s’est à son tour effacé du mur de l’église, l’église elle-même s’effacera bientôt peut-être de la terre.
C’est sur ce mot qu’on a fait ce livre.


Février 1831
Elle sera reconstruite


Prefácio

 Ao visitar, ou melhor, ao vasculhar a igreja de Notre Dame há alguns anos, o autor deste livro encontrou, num recanto obscuro de uma das torres, essa palavra gravada à mão numa parede: 

‘ANÁΓKH'

 Essas maiúsculas gregas, negras de tão vetustas e profundamente entranhadas na pedra com não sei quais indícios particulares da caligrafia gótica em suas formas e maneiras, deixavam claro que fora mão da Idade Média a escrevê-las, e sobretudo seu sentido lúgubre e fatal foi o que causou grande impressão no autor.
 Ele tentou imaginar ou adivinhar a alma aflita que não quisera deixar o mundo sem antes imprimir esse estigma de crime ou infelicidade no corpo da velha igreja. 
 Depois disso a parede foi caiada ou raspada (não sei mais), e a inscrição desapareceu. Pois é o que se faz há quase duzentos anos com as maravilhosas igrejas da Idade Média. São mutilações que vêm tanto de dentro quanto de fora.O padre pinta, o arquiteto raspa e depois vem o povo e as destrói. Assim sendo, além dessa frágil lembrança do autor deste livro, nada mais resta da misteriosa palavra gravada na escura torre de Notre Dame e nada se sabe do destino que ela tão melancolicamente resumia.  
O homem que escreveu aquelas letras na parede há vários séculos desapareceu nas sucessivas gerações,como a palavra desapareceu da parede da igreja e a própria igreja talvez também desapareça.

 Foi a partir dessa palavra que se escreveu este livro. 

FEVEREIRO DE 1831  

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