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segunda-feira, 29 de junho de 2020

A Nova Escola pós Pandemia

Reuters/StringerFonte: undefined - iG @ https://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2020-04-27/china-retoma-aulas-de-ensino-medio-com-fortes-acoes-de-seguranca-contra-covid-19.html



Alunos utilizam máscaras de proteção durante a aula
Foto: Reuters/Stringer
Muitos países retomaram as atividades escolares, com crianças vestidas como se fossem agentes de saúde trabalhando dentro de um hospital. A lógica da produtividade na organização econômica em que vivemos nos obriga a ver as crianças como operários mirins, que precisam a todo momento estar produzindo "algo de útil", lógica essa que nem nos damos conta de que permeia cada gesto, cada segundo do nosso dia. Quando estamos nos distraíndo, ou permitindo que as crianças brinquem, o fazemos porque temos consciência de que "precisamos nos distrair" para "recuperar as energias para o trabalho". E as crianças são tratadas dentro dessa mesma lógica.

Conscientes do prolongamento do confinamento social, os diretores das escolas e a administração pública se preocuparam em dar uma resposta à sociedade, no que se refere à existência da escola como parte integrante da estrutura social, sem refletir sobre a continuidade das atividades escolares dentro do caos. Considerando o insólito da situação atual - mesmo que em outros momentos da história das sociedades tenha havido circunstâncias análogas - não condeno essa atitude de trazer a escola para dentro das casas, substituindo os professores por algum membro das famílias. Com todos os problemas decorrentes do confinamento das famílias dentro de casa, a ausência de rotina escolar é apenas um deles, os profissionais do ensino buscaram amenizar a ansiedade das famílias, na parte que lhes cabia. Criando uma alternativa de ocupação para as  crianças,  respondiam às famílias dentro da mesma lógica econômica da concorrência e da produtividade. Alguns pedagogos se perguntam se muitos jovens vão deixar de querer frequentar escola. Vão. Se a escola não fizer a transição entre o caos atual e o necessário e novo significado da escola, muitos não vão querer voltar.


Na volta do confinamento social, a escola encontrará:

- crianças que perderam pessoas queridas;
- crianças que não conseguiram estudar;
- crianças que vivenciaram tragédias de violência doméstica;
- crianças cujos pais perderam o trabalho, e passaram fome;
- crianças que têm algum membro da família em convalescença, ou ainda hospitalizado;
- muitas escolas, centenas, em luto porque tiveram pelo menos um funcionário morto pelo covid-19.


E a escola pós pandemia terá que :

- focalizar na recomposição da comunidade escolar, através e no luto:
- fazer uma reflexão conjunta, crianças e comunidade escolar, dessa experiência de 2020 no sentido da ecologia, da solidariedade comunitária, do papel do governo/Estado;
- assumir prioritariamente o seu papel de ambiente de troca afetiva, social e comunitária, antes de retomar seu papel de ambiente de troca de conteúdo acadêmico;
- e essencialmente, fazer a transição consciente, refletida,  cadenciada entre o caos que estamos vivendo e a retomada do funcionamento global da sociedade

segunda-feira, 15 de junho de 2020

A pandemia mudou como nos relacionamos entre nós e no mundo


A pandemia, em especial o coronavirus, mudou a maneira como nos relacionamos uns com os outros. Ao decidir sair ou ficar em casa, sabemos que podemos contrair o virus e contaminar outros pessoas.
Teoricamente temos o poder de vida e morte sobre qualquer pessoa.

O Estado, então, aumentou esse poder. Sobretudo.

Achille Mbembe 2.JPG
O filósofo Achille Mbembe* criador do termo necropolítica vê que a pandemia não afeta as pessoas igualmente: os governos decidem quem deve sair de casa - os ditos serviços essenciais - e quem tem que se preservar.

Para ele isso não é novo: o sistema capitalista se baseia na distribuição desigual da decisão entre quem deve viver e quem deve morrer. Ele vê que essa lógica está no cerne do neoliberalismo, ao que ele sugere chamar de necroliberalismo. Um sistema que sempre operou em função da decisão de quem vale mais e quem vale menos. E quem não teria valor pode ser descartado. Isso é ilustrado pela discussão sobre o isolamento versus manutenção do funcionamento da economia.

Por outro lado, dada a dimensão do que estamos vivendo, as populações estão voltando para dentro de casa, literalmente, e mais amplamente, para dentro das fronteiras de seus países, os Estados fechando suas fronteiras.  É uma volta ao nacionalismo.

O que deve ocorrer, segundo Mbembe, é uma reavaliação sobre nossa transitoriedade no planeta. Não estamos certos de que nossa existência está garantida.  Mas o planeta continuará sem nós.

*Achille Mbembe é professor na Universidade de Witwatersrand, Johanesburgo, criador do termo necropolítica, título de seu ensaio sobre este publicado em 2003.
Foto: Internet

Necropolítica: por Achille Mbembe

No ensaio onde Achille Mbembe teoriza o conceito e cunha o termo Necropolítica, ele pontua em especial o Estado Moderno, focando s...