No ensaio onde Achille Mbembe teoriza o conceito e cunha o
termo Necropolítica, ele pontua em especial o Estado Moderno, focando sua análise
na ocupação por parte das nações europeias de territótios ocupados por outros
povos - notadamente América e África - e seus desdobramentos, inclusive na criação do
conceito de raça – no surgimento do Estado racista.
Mbembe faz uma breve análise inicialmente da relação do
indivíduo com o direito de vida e morte sobre si mesmo, e a consequente
projeção desse direito sobre o Estado. Ele retoma esse direito individual, mais
adiante no final do ensaio, analisando os fundamentos dos homens-bomba, a percepção
dos mártires voluntários sobre si mesmos.
Partindo do conceito de biopolítica, criado e teorizado por
Michel Foucault, onde o Estado tem poder sobre a vida de seus cidadãos, ele
analisa a noção de soberania, onde os estados-nações de facto pela sua preeminência militar, et de jure a partir do conjunto de suas leis internas, têm o poder de deixar viver ou assassinar
outros povos e populações
O enfoque central de suas reflexões é a violência declarada
do Estado, sem contudo deixar de exemplificar a violência jurídica explícita e
simbólica do Estado racista, propositalmente repressor e omisso, através da
realidade dos bantustões da África do Sul.
Ao longo de seu ensaio, ele nos faz compreender as relações
geopolíticas e intrínsecas da necropolítica, e nos oferece uma breve análise, contudo
diversificada em exemplos históricos e contemporâneos, a saber, desde a onda colonial
iniciada no século XV, ao holocausto
judeu, ao Apartheid da África do Sul, à ocupação violenta da Palestina, na
faixa de Gaza, aos dias atuais e dos diversos grupos militares fundamentalistas
proto-estatais hoje ativos na África.
Leitura curta, mas necessária para compreendermos o mundo de
hoje e decidirmos especialmente o que não queremos para amanhã.